miércoles, 8 de enero de 2020

COLON CORSARIO FRANCIA Y PORTUGAL 1476-1477 EN CRONICA DE ACENHEIRO.

                                                      Ida a Framssa

"...Como El Rei Dom affonso foi en Portugual partio pera Framsa, o ano de Christo de mil e quatro cemtos e setemta e seis, a pedir socorro a El Rei de Tramsa; e a Tainha ficou é Abrantes : e El Rei levou desaseis navios, e húa urqua, e quatro cemtos é cavalgaduras.E CULÁO cosairo,se veio pera elle a Laguos; e daqui foi El Rei a Cepta,que avia pouco que fora sercada dos castelhanos pella almina, e pellos muros da parte da terra, omde os Mouros cometeram ao Capitam que lehe dariam quamtos arrefens quisesem, e lhe desem entrada por Cepta pera irem dar nos Castelhanos, e os matarem, ou tomarem todos, e elle sria livre do cerquo, mas nam se fez tal partido.


Desembarcou El Rei em Comtibre,porto de Framsa, omde despedio os navios; e foi por terra a Perpinham, omde lhe foi feito muita omra, e foram abertos os caseres dos presos e soltos todos; e asim se fazia em todos os Luguares omde El Rei portava, e dalli mandou El Rei a Dom Francisco d´Almeida fazer saber sua vimda; e foi per Narbona, e Mompilher, e Veses, e Vemes, todas graodes cidades.

O duqe de Borbom com muita gente o veo receber, e despois Musaior de Sam valer gemro d´El Rei de Framsa, e El Rei mamdou por elle ao camino certos Senhores; e foi El Rei ver aquella fortalleza que se chama Mosegualhom, muito forte que senao sabe outra mais.

El Rei de Framsa estaba em Torres de Toraina, e ordenou que allí viese El Rei Dom Affonso.Chegou á Sidade, e etreguárao lhe has chaves, el foi-lhe feito grande recebimento : e El Rei de Framsa veo a ver como que vinha de camino.Na cortezia que amtre os Reis : via d´aver en sua vista determinou El Rei Dom Affonso fazer lha tamanha como pudese ser, nao desfazedo em seu estado: e sahio a receber a porta a pee, ou ao menos ao pee das escadas; mas El Rei de Framsa temedo-se disto mamdou diamte dous grandes Sennhores seus parétes que  o ditevesem, e elles asim o fizeram dizemdo que El Rei seu Senhor náo veria táo azinha; e sabendo elle que El Rei estaba já a porta,apresamdo-se tamben o ditiveráo, nem comsentiram que saise da cámara.

Como El Rei foi na sala o deixáram sair, e elle comsemtio isto porque entemdeo que vinha ordenado por El Rei asim. El Rei Dom Affonso hia com húas roupas onestas, e El Rei de Framsa trazia hú soo barete porque tirara já o outro, e trazia hú saio curto d emao pano, e húa espada: darmas cóprida com a guarnisam de ferro, e húas botas calsadas, e as esporas nos pees, e húas calsas bramcas cortadas de muitas cores: e ambos os Reis có os baretes nas máos, e os giolhos baixos, dise El Rei de Framsa com os olhos no ceo: 


Que dava muitas grasas a nosa Senhora, e a Museor Sam Martim, porque a hum tan pobre omé, com elle era,fizera tanta mercé, que o seu Reino e cassa o viese ver e visitar hú tamambo Rei, que elle sempre desejara de ver, e ter por Irmáo e amiguo; e náo cré-se que era vindo a Reino estranbo, maos no seu propio, porque asim faria nele como no seu de Portugual. e asim se recolheram á camara, a emtrada da qual ouve gramde profia; e emfim El Rei Dom Affonso se deu por vemcido, dizendo : que avia por milhor ser-lhe bem mandado que cortés: e loguo aqui os Reis fallaram en seus neguocios, e El Rei Dó Affonso lhe dise como lehe vinha demandar ajuda e sacorro, e El Rei de Framça lhe dise : que pera milhor se poder fazer que elle sesase da guerra em que amdava, e que isto feito tudo se faria o que elle ordenasse : e acordarm mais que fosem ao Papa pedir despemsasam pera o casamento da Rainha Dona Joana,a qual o Papa numqua quis cóseder ,vemdo como o tal casamento era pera se ordenarem gramdes guerras.

E despedidos os Reis por noite, El Rei de Framsa mandou dizer a El Rei Dó Affonso que lhe aprouvese de tomar cinquo mil escudos douro pera comvidar allgúa gemtil dama, que era usasóa de seu reino : Por Emtanto El Rei se escuzou de os tomar.

Aquí fez El Rei de Framsa Dó Fernaódo d´Almada comde d´Abraóches: e El Rei Dó Affonso por conselho d´El Rei de Framsa se foi ver com o Duque de Borguonha; e loguo em se vemdo ambos lhe dise o Duque : que elle era vimdo a bum omé emque náo avia virtude; nem verdade; e que pera o cre náo quisese outra prova senáo,que temdo-o éviado a elle que no Múdo era tal e táo éxelmente,foi có requerimento e mostraósa de tamta pás,loguo a pós elle maódaráo muita gente dármas contra elle.

E porem que elle tinha ao mesmo rei de Framsa em táo pouqua estima,que com 
hú soo pagem, que mostrou,ousaria dar-lhe batalha,e esperar vitoria; mas comtudo por lhe comprazer e servir, elle era comtente da cócordia, e lhe pormetia d´estar em toda paz, e faria tudo quamto elle ordenase: e com está cóclusam se partiam; e levamtamdo seu ararial, e despedida muita gente, avemdo ja cinquo días que estavam ordenaódo as cousas d´El Reo, vieram sobre elle as gemtes d´armas d´El Rei de Framsa, e o Duque de Borguonha seu contrario queremdo elle sair a dar-lhe batalha foi desbaratado e vencido e morto;e como El Rei de Framsa isto teve feito nam curou das cousas d´El Rei Dó Affonso,mas maódou-lhe dizer que se fose a Paris, e que ahi o esperase, e elle andando cobramdo as suas terras, que lehe o Duque tinha, e asim as mesmas do Duque.

E El Rei Dom Affonso foi mui triste pella morte do Duque, que bem entemdeo o feito, e que elle fora causa de sua morte: e vemdo já El Rei Dom Affonso como já em sua empresa faltava o remedio, determinou ir-se secretamente servir a Deos a Gerusalem, e por desimular esta ida hia cada dia secretamente a húa romaria, e hum dia muito cedo se paertio com Sueiro Vás, e com Pedro Pessoa, ambos seus Moços da Camara seus privados, e dous Moços d´esporas a que deo a chave de hum cofre, e mandou a Estevam Martis seu Capelam que o fose aguardar dalli a mea jornada:

 e dahi fés tornar ao Luguar hum dos Moços d´esporas a que deu a chave de hum cofre que deixava com hús papéis escriptos por sua máo,pello qual Moço d´estreteira maódou dizer que o abrisem; no qual acharam húa carta pera El Rei de Fraósa com remoques desimulados, reprotados a sua desavétura; e outra carta pera o Principe, seu filho, é que lhe dava comta de sua viagé, e maódou-lhe que loguo se alevaótase; e emtitulase por Rei; e outra pera o povo; e outra pera os que ali estavam que se ajumtassem có Códe de Farom, com que todos foram mui mui tristes; e asim Musior de Lebrete, que com El Rei amdava por mandado d´El Rei de Framsa.

E foi posta muita diligemcia em buscar El Rei, e o foram tomar é húa vilagem dormindo todos por mais disimulaçao, e tornárao-no a trazer omde os seus estavam, e de que ella foi mui triste, e embarcou em outro porto por o ali nam verem; e acótecemdo lhe muitas cousas pelloo mar,veio aportar a Lixboa a Ueiras , e ahi o foi ver o Primcepe,seu filho, Dom Joam,que poquo avia que era allevamtado por Rei.

É depois El Rei vimdo a Portugual a Rainha Dona Isabel,molher d´El Rei Dom Fernamdo, que era em Castella, e a Ifamta Doña Breitis sua tia, mai d´El Rei Dó Manoel,se viram em Alcamtara por bem das pazes, e acordáráo, e ordenáráo que Embaizadores viesem com poderes em estas capitolaçois; a saber, que El Rei Dom Affonso deixase os titillos que do Reino de Castela tomára, e asim  mesmo El Rei Dom Fernamdo, e a Rainha Doña Isabe leixasem o titollo de Portugual de que se chamaváo Reis, e a Rainha Dona Joana leixase todolos titollos de Castella e Portugual, e dahi por diante náo se chamase Rainha, nem Primsesa, nem Ifamtemsalvo se fose casada o Primpicpe Dom Joam de Castella, como podia ser. que todo los Luguares, e asim presoneiros,se tornasem de húa a otra parte, e que os omiziados se perdoasem dambalas partes..."

                                                         FUENTE

                   CHRONICAS DOS SENHORES REIS DE PORTUGAL
                                                             POR
                             CHRISTOVÃO RODRIGUES ACENHEIRO

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